terça-feira, 24 de setembro de 2013

Manifestações e senso comum, parte 1



Agora que o gigante voltou a dormir, algumas reflexões sobre o senso comum e manifestações diversas:

1 – o que é o senso comum?
Senso comum são ideias repetidas com muita frequência, em geral por pessoas que não refletiram muito bem sobre o assunto que estão discutindo. Por exemplo, suponha que você está em uma festa e alguém que você não conhece direito, mas quer impressionar, pergunta: “e os políticos, hein? O que você acha?”. Você sabe que, se ficar em silêncio, vai parecer ignorante ou alienado. Mas também é possível que você não saiba direito o que falar, ou porque não se interessa pelo assunto ou simplesmente porque nunca parou para refletir. Nesses casos, a saída costuma ser o senso comum: “pra mim, é tudo ladrão!”.
Por que essa opinião pode ser classificada como senso comum? Porque ela se baseia em um julgamento raso, generalista e muito repetido sobre o assunto. A pessoa que exprime ideias desse tipo normalmente está apenas buscando o caminho mais fácil. Embora esse caminho tenha uma tendência a funcionar bem no cotidiano (caso contrário, os escritores de horóscopo ficariam sem emprego), ele é um equívoco quando aplicado em redações e provas dissertativas.

2 – se uma opinião é senso comum, a opinião contrária é crítica?
Não; o contrário do senso comum normalmente é tão senso comum quanto. Se alguém disser “todos os políticos são honestos”, também está sendo generalista e pouco aprofundado. A única possível vantagem aí é a originalidade, o que não basta para caracterizar uma ideia como crítica.  

3 – o senso comum está SEMPRE errado?
Não; às vezes, ele é apenas incompleto, óbvio ou inútil. Por exemplo, se você acredita que toda jornada começa com um primeiro passo, parabéns: você tem razão. No entanto, isso também não torna sua opinião crítica nem útil. Na verdade, um dos motivos para as pessoas usarem com tanta frequência o senso comum é justamente o desejo de evitar riscos. Ao fazer afirmações óbvias, você garante que não será contrariado e pode até impressionar algumas pessoas menos atentas. Se tiver contato com uma editora, é possível que enriqueça escrevendo livros de autoajuda (alguns livros de autoajuda, na verdade, contêm conselhos que fogem ao senso comum, de maneira que alguém pode me acusar de incorrer nele ao generalizar os livros de autoajuda como óbvios. Tudo bem, podem me processar.)

Essa última parte (o senso comum como forma de evitar polêmica) merece um texto completo em uma próxima oportunidade. Até lá.